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quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Estudo Sintático do Período Composto - Inez Sautchuk (Prática de Morfossintaxe - 6° Capítulo)

Estudo Sintático do Período Composto

Na língua nada funciona sozinho, isto é, do morfema ao texto, sempre temos uma relação de unidades de nível linguístico inferior compondo outra unidade de nível superior:

Morfema → palavra → sintagma → oração (período) → texto

Período simples

As orações são estruturadas a partir dos sintagmas. Uma única oração pode constituir um único período ─ o simples ─, ou um conjunto de orações pode organizar-se entre si de maneira mais ou menos dependente, contraindo entre elas relações de dependência sintática ou constituindo unidades apenas semanticamente  dependentes ─ o composto;
Há dois processos básicos de se articularem orações em um período composto: a coordenação e a subordinação, podendo haver períodos em que só ocorre um ou outro processo, ou ambos, conjuntamente.                                                                               

Segundo Sautchuk o significado de “ coordenar” e “subordinar”  orações, pressupões um paralelismo de funções e valores sintáticos idênticos entre elas. Nesse caso, não há necessidade de dar ênfase a determinada ideia ou a um conjunto de ideias em um período composto, nem de o sentido de uma oração exigir o de outra oração. 

Presumo
enquanto morei ali
que o júri não funcionou

Verifica-se a dependência sintática quando se leem as três orações separadamente umas das outras: presumo exige um complemento obrigatório ─ objeto direto, representado pela oração que o júri não funcionou, e a oração enquanto morei ali funciona como uma ideia circunstancial  presumo que o júri não funcionou, enquanto a outra oração oferece apenas uma ideia acessória. 

Oração Principal

Sempre será aquela que estará com o sentido incompleto ou semi-incompleto, necessitando de aditivos sintáticos. Dependendo da natureza morfossintática das outras orações que acompanham a oração principal, esse papel de relevância semântica será mais ou menos preponderante no conjunto. 

Orações subordinadas substantivas, adjetivas e adverbiais.


As orações subordinadas contém uma dependência sintática (além da semântica), isto é, podem exercer funções sintáticas peculiares ao tipo de sintagma que estão representados no período composto: 

Oração Subordinada

Como próprio nome indica, tem a natureza morfológica substantiva e pode desempenhar as mesmas funções sintáticas que um sintagma nominal desempenharia, pois preenche os requisitos para isso.

Subordinada Substantiva

É pouco provável que os pássaros feridos sobrevivam
É pouco provável a sobrevivência dos pássaros feridos.

Equivale a um sintagma nominal, de natureza morfológica substantiva (núcleo sobrevivente)

No período composto a oração que equivale a esse sintagma sujeito recebe o nome de Subordinada Substantiva Subjetiva.

Orações Substantivas

São introduzidas pelas conjunções integrantes que (quando o verbo indica uma certeza) ou se (quando o verbo expressa incerteza ou quando ocorre uma interrogação indireta).

Oração Adjetiva

Será representada por um sintagma adjetival e, como tal, funcionará sempre como um modificador doo núcleo do sintagma nominal. A  primeira oração adjetiva classifica-se como subordinada adjetiva explicativa, e a segunda como subordinada adjetiva restritiva.

Oração Adjetiva Explicativa: Funciona como um sintagma autônomo, separado por virgulas. É usada para acusar uma característica casual, imprevista, ainda que totalizadora

Oração Adjetiva Restritiva: Equivale a um sintagma interno e sintaticamente componente de outro sintagma. Tal oração indica sempre uma característica inerente, restrita ao elemento qualificado.

Inez Sautchuk nos afirma que as orações adjetivas são introduzidas, sempre por um pronome relativo: que, qual, o qual (a qual, os quais, as quais), cujo (cuja, cujos, cujas), quanto (quanta, quantos, quantas) e onde

Orações Adverbial

Sua equivalência é com um sintagma de natureza e função adverbiais. Exatamente como um adjunto adverbial, as orações subordinadas adverbiais indicam uma circunstância em relação à sua oração principal. Toda circunstância encerra uma ideia, uma condição particular e/ou acidental que acompanha um fato. 
Todos os sintagmas que ladeiam a oração central indicam uma circunstância e funcionam sintaticamente como adjuntos adverbiais de: tempo, lugar, causa, concessão (ou contradição), modo, comparação e finalidade. 
Para organizar nossos pensamentos por escrito, precisamos saber que tipo de conjunções ou de operadores lógicos e língua dispõe para expressá-lo adequada e eficientemente.

Operadores Discursivos

São elementos linguísticos que servem para organizar e condizer as ideias no texto, com uma amplitude maior que a dos operadores lógicos. 
São também operadores discursivos: daí, primeiramente, finalmente, de qualquer modo, assim, ainda, mais do que nunca etc.

Orações reduzidas

São estruturadas semelhantemente às orações chamadas desenvolvidas. Seu uso representa uma possibilidade a mais de construção de períodos compostos, principalmente quando se quer evitar, estilisticamente, excesso ou repetição de conectivos. 

Paralelismo sintático

É um mecanismo de construção de enunciados que permite não só melhorar a clareza da expressão como também acrescentar a ela um toque de pura elegância estilística. 
Seria sintaticamente inadequado, por exemplo, em um período composto, uma oração desenvolvida (introduzida por um conectivo) concorrer com uma reduzida, ambas “presas” a uma mesma oração principal. 
A autora afirma que a obediência  à simetria sintática de construção de frases é  marca de quem sabe manejar muito bem a sintaxe de sua língua e, consequentemente, conhece a própria língua.
Um olhar experiente consegue  com facilidade perceber o desequilíbrio de formatos sintáticos em uma frase.
É preciso cuidado redobrado com o paralelismo nas correlações de ideias, pois pode ocorrer um emprego inadequado dessas expressões.

“ O sistema linguístico põe à disposição do falante diferentes arranjos sintáticos para a expressão de relações semânticas, lógicas e argumentativas, Por mais requintado e complexo que seja seu pensamento, ele deverá procurar, no repertório de sua língua, os mecanismos sintáticos que lhe permitam exprimi-lo adequadamente. As combinações possíveis são tantas que os poetas podem queixar-se apenas da dificuldade para encontrar a expressão perfeita ─ jamais, porém, de que faltem ao sistema de sua língua recursos para socorrê-los.  A sintaxe tem sua economia interna, suas leis próprias. A essa grande senhora, sem a qual não se pode passar, recorre o homem para realizar seu fascinante jogo na armação do pensamento."  Carone (1988b:7)

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