Capítulo 4
Estudo dos termos da oração (período simples)
Os enunciados de um texto
qualquer podem ser organizados sob a forma de períodos simples ou compostos,
desde que apresentem, respectivamente, uma única oração ou mais de uma. Quando
o período é composto, haverá também uma relação sintática entre suas orações
constituintes. Essa relação pode ser de simples superposição uma oração após a
outra, sem nenhuma dependência sintática entre si, ou com variados tipos de
dependência.
A esses dois processos básicos de
relação sintática que ocorrem em períodos compostos damos os nomes de
coordenação e subordinação. As relações sintáticas que ocorrem nos períodos
simples, ocorrem entre os diversos sintagmas que constituem essas orações,
tendo o verbo como centro ou elemento fundamental dessa construção.
Se toda oração deve
necessariamente apresentar um sintagma verbal como seu constituinte
obrigatório, o mesmo não se pode dizer de outro constituinte, este de natureza
gramatical e não meramente semântica: o sujeito. O SUJEITO de uma oração é uma
noção gramatical – uma função sintática – que está muito além de ser entendida
de uma maneira apenas ou predominantemente semântica, como tem ocorrido.
Considerá-lo termo essencial da oração já apresenta uma série de “exceções”,
pois, como se sabe, há inúmeros casos de orações sem sujeito em português.
Dizer também que sujeito da oração é o termo sobre o qual se
afirma ou se declara algo pode até significar que não se declara coisa
alguma, visto que não há termo ao qual a declaração seja dirigida ou que se
afirma algo sobre o tempo, sobre a comida ou sobre as horas.
Da mesma forma, há quem diga que sujeito é aquele que pratica a ação expressa
pelo verbo, o que em uma oração, pode levar o pobre usuário da língua à
loucura, pois o sujeito não pratica ação nenhuma, ou pode fazê-lo perguntar por
que não teria sujeito, uma vez que o verbo não expressa ação.
As tentativas tradicionais de
caracterizar o sujeito da oração são baseadas em considerações de natureza
semântica, isto é, na necessidade de saber o significado (subjetivamente
oscilante) do que seria essencial, do que é declarar, do que é ação. Também de
uma forma subjetiva seria impossível entender por que em uma oração como alguém quebrou o vaso o sujeito não é
indeterminado e por que em quebraram o
vaso o sujeito é indeterminado e não oculto.
Ainda muito usado em livros
didáticos: para descobrir o sujeito,
pergunte “quem? ” ou “o quê?” para o verbo da oração. Entre outras falhas,
esse mecanismo “prático” só funciona quando o sujeito da oração é tão óbvio que
a pergunta nem precisaria ser feita. Além disso, o método leva a confusões
fatais, pois, para descobrir o objeto
direto da oração, também se aconselha perguntar “o quê?” ao verbo.
É necessário estudar o SUJEITO da
oração além de uma definição semântica, examinando-o primeiro sob uma
perspectiva predominantemente morfossintática, quando se observam sua base
morfológica e sua função no eixo sintagmático. A partir disso é que se podem
tecer considerações quanto a “o que ele significa”, necessariamente dependentes
do papel que esse sujeito desempenha em um contexto textual.
As orações em português
organizam-se mediante uma disposição dos sintagmas na cadeia falada que obedece
a um padrão de construção, que podemos agora chamar de padrão sintático de construção:
SVC (S= sujeito; V= verbo e C=
complemento)
Esses modelos de construções
podem ser expandidos ou transformados de incontáveis maneiras, inclusive
rearranjados em outra ordem: são as inúmeras possibilidades de se expressar uma
ideia em Língua Portuguesa, por meio de enunciados mais simples ou mais
complexos.
Estudo do sujeito da oração
A característica morfossintática
definitiva do SUJEITO da oração é a de ser sempre de natureza substantiva,
representando, portanto, por um sintagma
nominal, e, depois a de ocupar preferencialmente a primeira posição do SVC.
Assim, em qualquer tipo de enunciado, podemos lançar mão dessa dupla
característica e propor um método prático de identificação do sujeito das
orações: todo termo da oração (não
preposicionado) que puder ser substituído por um pronome reto (ele, ela) será
sujeito.
O princípio linguístico que rege
esse método prático é aquele sustentado pelo fato de que somente um pronome
pessoal do caso reto pode substituir o sujeito da oração, por serem ambos de
natureza substantiva (não preposicionada).
Devem ocorrer algumas condições
constantes:
- todo termo não submetido deve
sempre ser repetido na resposta, isto é, as respostas devem ser sempre
completas;
- o pronome reto concorda, em
gênero e/ou número, com o núcleo do sujeito;
- se todo sujeito expresso na
oração é sempre representado por um sintagma nominal, obviamente nenhum
sintagma preposicionado poderá ser sujeito;
- o sujeito da oração é sempre
representado por um sintagma autônomo.
Esse método é particularmente
funcional nos casos de orações construídas em ordem inversa ao SVC e que
apresentem sujeito expresso. O sujeito, quando explícito na oração, tem de ser
necessariamente um sintagma nominal:
- com determinante+ núcleo
substantivo;
- representado por palavra
substantivada;
- representado por pronome
substantivo;
- expandido a partir do núcleo
substantivo e acompanhado por seus determinantes e/ou modificadores.
O importante é ressaltar que a
posição do sujeito no padrão oracional do português é sempre a de um termo de
natureza substantiva, mesmo que, nessa estratégia de identificação, nem sempre
seja possível trocar o termo por um pronome reto correspondente, em razão do
uso na língua, mas se possa fazê-lo por outro pronome substantivo equivalente,
como isso.
É tradicional classificar o
sujeito da oração como simples, composto,
oculto (ou elíptico), indeterminado ou
inexistente (ou oração sem sujeito). Independentemente da nomenclatura de
classificação, exemplos desses casos possibilitam como o método prático também
funciona com eles. Saber o nome de um determinado tipo de sujeito não é tão
importante quanto observar as várias possibilidades de esse termo se manifestar
nas orações.
Assim, o caso de SUJEITO SIMPLES
(SS) ocorrerá quando for possível trocar um sintagma nominal (com um só núcleo
substantivo) por um só pronome reto.
Já no caso do SUJEITO COMPOSTO
(SC), dois ou mais sintagmas nominais (com os respectivos núcleos substantivos)
podem ser trocados por um só pronome reto.
O SUJEITO OCULTO (SO) (ou elíptico
ou desinencial) é aquele marcado na própria desinência verbal, sem ser
representado expressamente no enunciado por um sintagma nominal. Nesse caso, em
nosso método prático, não se troca nenhum sintagma nominal por pronome reto,
mas acrescenta-se um só pronome à oração, justamente aquele único que pode se
articular ao seu verbo.
Os casos de SUJEITO INDETERMINADO
(SI) são um pouco mais complexos, mas o método prático funciona igualmente bem
como eles. Lançamos mão de enunciados com sujeito indeterminado quando
contextualmente o desconhecemos ou desejamos que sua identidade permaneça
desconhecida. Embora ela exista sintaticamente, não aparece expresso na oração.
Nesse caso, o verbo da oração fica necessariamente apenas em 3ª pessoa do
plural ou do singular, acompanhado do pronome se.
Em relação a construções de
verbos em 3ª pessoa do singular ou do plural com o pronome se, não podem se esquecer os casos em que esse pronome funciona
como pronome apassivador, ou seja, os
casos de voz passiva sintética. Nesse
tipo de construção, a oração pode passar facilmente para a voz passiva
analítica, indicando não ter um sujeito indeterminado, mas apenas estar
construída em uma das possibilidades de apassivar o sujeito em português.
Finalmente, há o caso das ORAÇÕES
SEM SUJEITO, em que se costuma nomear o sujeito de inexistente, o que nos parece um tanto incoerente. Entretanto, são
construções em português que correspondem àquela ausência significativa, isto é, àquela posição S que fica vazia no
padrão SVC. São enunciados em que se diz que o verbo é impessoal, devendo permanecer quase sempre na 3ª pessoa do
singular.
A função gramatical (sintática0
do sujeito da oração, quando expresso por meio de um sintagma nominal ou
omitido na forma oculta ou indeterminada, é útil e necessária para desempenhar
papéis comunicativo-textuais muito importantes. Se escrevermos uma frase,
começando por qualquer sintagma que não seja sujeito, é possível observar como
o leitor vai lendo...lendo no aguardo de um sintagma que assuma essa função.
Na verdade, a função do sujeito
em uma oração ultrapassa a meramente gramatical ou sintática, uma vez que ele
pode ser usado para desempenhar pelo menos três papéis comunicativos
diferentes, estes, sim, de relevância semântica:
- referente: aquilo sobre o que se
declara algo;
- tópico: função textual de
realce;
- agente: aquilo que pratica a
ação expressa pelo verbo.
Isso significa que, quando se
constrói uma frase com sujeito, ele estará representando o elemento ao qual se
fará um comentário, realçando esse elemento na frase e, no caso de referir-se a
um verbo que expressa ação, poderá representar também o agente dessa ação.
As orações sem sujeito em
português, por sua vez, podem ter, por si só, carga semântica fechada, não
apresentando, portanto, referência a um tópico/sujeito na construção frasal ou
funcional como parte de um período composto, mas indicações de um tempo
decorrido.
Camila Menezes Maia RA C495492
Letras - 4º Semestre - Turma LL4P48
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